quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O desabafo de Ruy Espinheira na Bienal do Livro da Bahia

Sentinela - Antonio Nelson
Num passeio pela X Bienal do Livro da Bahia 2011, encontro Ruy Espinheira! Ruy já tinha agenda marcada para assistir o Café Literário, realizado na Bienal. Após cumprimentos, ofereci o convite para me conceder entrevista. Bastante receptivo e incisivo nas declarações, percebi que Ruy estava entregue à atemporalidade. Tive que recordá-lo da sua agenda.

Ruy Espinheira Filho - Nasceu em Salvador/Bahia, é escritor, poeta, jornalista, doutor honoris causa pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, UESB (1999), professor aposentado, lecinou Letras Vernáculas na UFBA (Universidade Federal da Bahia), membro da Academia de Letras de Jequié e da Bahia. Mestre em Ciências Sociais. É também colunista do jornal A Tarde*.
Antonio Nelson – O que lhe inquieta agora?

Ruy Espinheira –
Objetivamente, me entristece a cidade do Salvador estar entregue ao abandono pela administração pública. Falta espaço cultural. "Hoje a cultura está no entretenimento e no rebolado”. As artes plásticas e a literatura não são valorizadas. Aconteceu um empobrecimento nas últimas duas décadas. Nós estamos no pior momento cultural na Bahia. Nas décadas de 1960 e 70 foi melhor. “Nossos administradores não se importam, a não ser que possam manipular os interesses próprios. A indústria do entretenimento e da pornografia é valorizada. Que cultura atualmente a Bahia exporta? São raros exemplos com qualidade que exportam nossa cultura".

A.N – Quais são os exemplos?

R.E –
Prefiro não citar nomes. Serei injusto. Posso esquecer alguns. Mas basta ficar atento. Eu tinha expectativa de mudança com a posse do governador Jaques Wagner. A mudança precisa acontecer pela educação. E é fenômeno nacional. A Bahia não é mais uma cidade crítica. Se aceita tudo. Tudo é nivelado por baixo.

A.N – Como você avalia a qualidade de conteúdo dos meios de comunicação de massa da Bahia?

R.E –
O que tem de melhor não têm. Os meios ocupam com o que há de pior. Além disso, nossos políticos não valorizam a adoção de livros como fazem os gaúchos. Atualmente a Bahia está com a pior cultura do nordeste. Na imprensa não têm um suplemento de arte e literatura, uma crítica das obras culturais na cinematografia. “PT e cultura vivem mundos diferentes. Com Lula melhorou. Com o PSDB seria pior. FHC foi ruim para o país. Ele trabalha para São Paulo. Ser de esquerda ou direita é um risco. São extremos. A militância é fanática. Quem pensa que vai manipular intelectuais por ideologia está enganado. A arte não se vende”. Os meios de comunicação de massa deixam a desejar. Nacionalmente, o que restou do JB? Fui professor de jornalismo por mais de 20 anos na UFBA.


A.N – Quais as suas expectativas para as eleições municipais de 2012?

R.E – As arrumações e ambições políticas assolam a política da Bahia.
A.N – Quanto à possível candidatura de Mário Kertész?

R.E –
“Mário Kertész é cria de ACM. Ultimamente partido político não muda nada. Pra mim são todos iguais. São gêmeos. Prefiro não entender porque o PT se aliou ao Carlismo. Quem é o vice de Wagner? E o César Borges na chapa do Senado, está em nome de quem? Nacionalmente, vejamos a aliança com Sarney, Collor e Lula no Palácio do Planalto. Se você se alia aos canalhas... Como você convida pessoas que você lutou contra? Qual mudança haverá?

A.N – Copa do Mundo 2014?
R.E – "A Copa é uma patacoada. Não sou ingênuo de pensar que a Copa não trará prejuízos de superfaturamento. Os casos de corrupção no Brasil hoje só são bilhões. Com certeza a corrupção está imperando na Copa". Vejamos os hospitais no Estado. E a construção com bilhões na ponte Salvador-Itaparica. O Brasil é uma nação rica. Mas tem que construir pirâmides para mostrar para o mundo. As vias que levam do aeroporto até a Fonte Nova possivelmente vão resolver. Mas em Lauro de Freitas haverá um gargalo, um horror. Eu moro em Buscaville! "O povo vai pagar o prejuízo. A vida do baiano não vai melhorar".

*
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